Folhas secas Não me sentei. Foi apenas contemplação. A natureza e sua complicada singeleza. Nossa pequenez e sua inventada complicação. Contraste. Somos esse tanto enorme de um monte de nada. Acreditamos que somos tudo. Se acreditamos, somos? E como somos. Cromossomos e só. Escritos fomos desde antes. Aquelas duas meia-células. Cada uma com metade de …
Lembro dos autores românticos e seus personagens que amavam mas não eram correspondidos. Penso nesses pontos que vão se ligando por aí e frenética e descontroladamente se atando e desatando às mais diversas teias. De repente, dois pontos se conectam, mas cada ponto traz a sua própria teia repleta de outros pontos interconectados. Escolhe-se o …
Meus olhos vermelhos contemplam enquanto meu corpo se entrega à relva verde e orvalhada da manhã. A névoa gélida e branca faz o céu desaparecer; seu azul sofista não surge, penso na verdadeira escuridão, a escuridão absoluta do infinito. O que há de luzes são lampejos, quase nada frente ao todo negro. Cores, cores, quimeras …
Cá estamos nós. Expostos. Fuxicados. Entregues à falação dos demais. Na boca do povo. Como aconteceu isso, você pode se perguntar. Quando se deu essa invasão de privacidade é a dúvida que paira. Lendo assim, parece algo terrível, certo? Mas é o teatro-verdade das redes sociais que impera agora. E para essas perguntas as respostas …
Prólogo: As pupilas são responsáveis por regular a quantidade de luz que será enviada do exterior para nossas retinas. É um furo, um buraco, que faz vazar luz para dentro. Quando estamos em um ambiente escuro, por instinto, nossas íris dilatam, fazendo a pupila crescer e absorver o máximo da pouca luz disponível. Já quando …
Queria navegar manso. Acontece às vezes. Na verdade, queria mesmo gostar de navegar em águas de tranquilidade. Quando há uma maldita bifurcação, escolho instintivamente corredeiras. Para me arrepender depois, é claro. Foda-se no fim; decisão é decisão e que venha uma calmaria posterior – só para aliviar. E que passe rápido, contudo. Passará. Os afluentes …
Sempre estive lá. Por opção, convenhamos. Por conveniência, saiba-se. Por acaso… Mentira! Era a maldita vontade. Sempre ela. A única personificação do diabo que tive notícia. Encontros e desencontros. Fatalidade. Fartura delas. Farto, isso sim! Exclamo que existo e sei que não é para sempre. Sinto que é por pouco tempo na verdade. Ainda mais …
Não quero mais. Nem isso, nem aquilo. Quero me encontrar somente. Ser meu estilo. Tranquilo. Ter-me como o máximo. Sem falsa modéstia. Sem a sociedade como moléstia. Não à inércia. Respirar como que se toda a atmosfera me pertencesse. Sem quimera. Quem dera. Quero a solidão do lobo que uiva rouco. Sim, posso ser tratado …
Morre-se aos poucos. Por que haveria pressa, se não há um prazo oficial? Mas a certeza da morte deveria estar presente em cada acordar, em cada adormecer, em cada aniversariar. A cada dedicatória de parabéns, morre-se um pouco mais. Não pelo gesto em si, mas pelo tempo que ele consome e pelo que significa: ter …
Nada. Simples assim. Não é tão difícil entender. Nada. Ponto final. Dia de finados é uma data bem curiosa. Exibe em toda sua imponência o apego que as pessoas têm pelo pós-vida. São rituais dos mais diversos de adoração a alguém que não está mais ali. Na verdade, é uma adoração opulenta a restos mortais …